25 de abril de 2007

Revolução dos Cravos em Portugal

Madrugada de quinta-feira, 25 de Abril. Portugal dorme. Num posto de comando clandestino, formado no Regimento nº 1 na Pontinha, em Lisboa, há um aparelho de rádio sintonizado na estação da Rádio Renascença. Á sua volta alguns oficiais das Forças Armadas esperam ansiosos ouvir a senha que confirmará o curso irremediável da revolução planeada. Ela virá sob a forma de uma canção:
Grândola, Vila Morena, Terra da fraternidade, O povo é quem mais ordena, Dentro de ti, ó cidade?, do cantor José Afonso :



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Passa meia hora da meia-noite quando a rádio a põe no ar. Por todo o país iniciam-se movimentações militares. Soldados saem às ruas em tanques, jipes e camiões. É necessária a tomada de posição em pontos estratégicos: Quartéis-generais, pontes, aeroportos, postos de comunicações.
Em Lisboa, as colunas militares deslocam-se pelas zonas circundantes à Baixa Pombalina e ao Terreiro do Paço, ocupando o centro da cidade e impedindo a passagem. Furriéis e cabos milicianos mantêm-se de metralhadora em punho e munições no chão. Na mira dos soldados os edifícios do poder político e policial. O aparato militar nas ruas é grande, mas os soldados aparentam absoluta tranquilidade. Os seus rostos serenos contrastam com a estupefacção de quem de manhã se faz ao emprego para mais um dia de trabalho. Percebendo que se trata de um golpe de Estado muitos populares deixam-se ficar nas ruas perto dos soldados e dos seus carros de combate.
Ao longo da manhã a situação vai-se clarificando. Através de comunicados lidos no Rádio Clube Português, em Lisboa, a população é informada de que está em curso uma acção de um Movimento das Forças Armadas (MFA) com vista à libertação do País. As mensagens trazem mais gente à rua, apesar dos apelos dos militares para que a população regresse a casa e se mantenha calma. O MFA teme o derramamento de sangue. E quer a todo o custo evitá-lo. Por isso apela também às forças militarizadas, potencialmente opositoras, que não interfiram no processo. À Polícia de Segurança Pública (PSP), à Guarda Nacional Republicana (GNR) e às forças da Direcção-Geral de Segurança / PIDE-DGS e da Legião Portuguesa, que abusivamente foram recrutadas, lembra-se o seu dever cívico, ouve-se na rádio. Ainda assim uma coluna da PSP tenta travar a revolução, mas é rapidamente neutralizada sem que haja confrontos de maior.
Entretanto, as operações militares desencadeadas levam Marcello Caetano, Presidente do Conselho de Ministros a procurar refúgio no Quartel-General da GNR no Largo do Carmo, juntamente com outros membros do Governo. O reduto não é, no entanto, seguro. Ao tomar conhecimento desta situação as tropas do MFA, comandadas pelo Capitão José Salgueiro Maia, partem do Terreiro do Paço para o Largo do Carmo cercando o edifício. A massa de populares avoluma-se na expectativa da rendição de Marcello Caetano.

A necessidade de resolver o impasse agiganta-se. São disparadas duas rajadas de metralhadora sobre o quartel deixando a sua fachada cravejada de balas. É então que dois homens, Feytor Pinto, ex-director dos Serviços de Informação e Nuno Távora, funcionário daquele organismo, se apresentam por iniciativa do primeiro para entrar no quartel e negociar a rendição dos sitiados. Quando sai do edifício, Feytor Pinto traz a notícia de que Marcello Caetano acede a entregar o comando das Forças Armadas ao General António de Spínola, conhecido pelas suas posições contra a guerra Ultramarina e ele próprio cabecilha de uma outra tentativa de golpe fracassado. Está negociada a rendição.
A rendição dos agentes da PIDE acontece apenas na manhã do dia 26 de Abril. São transportados para a prisão de Caxias de onde à mesma hora estão a ser libertados os presos políticos que ali estavam detidos. (Madrugada de jueves, 25 de Abril. Portugal duerme. En un puesto de comando clandestino, formado en el Regimiento nº 1 en la Pontinha, en Lisboa, hay un aparato de radio sintonizado en la estación de la Radio Renascença. A su vuelta algunos oficiales de las Fuerzas Armadas esperan ansiosos oír la señal que confirmará el curso irremediable de la revolución planeada. Ella vendrá bajo la forma de una canción: Grândola, Villa Morena, Tierra de la fraternidad, El pueblo es quien más ordena, Dentro de ti, oh ciudad?, del cantante José Afonso...).




A Revolução Portuguesa de 25 de Abril. Universidade de Coimbra

General Vasco Gonçalves, líder histórico de la Revolución de los Claveles
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Monumento ao 25 de Abril em Grândola


2 comentarios:

Anónimo dijo...

Impresionante Grândola, Villa Morena: “El pueblo es quien más ordena”.
Siempre recuerdo esta fecha con cierta nostalgia porque por entonces mi conciencia social empezaba a despertarse. Primero con Víctor Jara y después con otros muchos, entre ellos José Afonso. Gracias por traerlo a mi memoria.
No se si el mundo es mejor desde entonces pero aunque algún dictador vino otros muchos se fueron yendo.
¡Cultura y libertad!

nieves dijo...

Me apetecía hacer un homenaje a Portugal,tan cerca y tan lejos.Y la "revolución de los claveles" siempre me pareció una forma poética de vencer una dictadura.

Un abrazo, loly.